Editorial
Como que num piscar de olhos chegámos ao 10.º número da nossa querida Revista. Queira Deus que a possamos acompanhar durante o tempo que for necessário. Não é só um projecto gratificante; é um trabalho importante – dir-se-ia, premente – nos tempos conturbados em que vivemos. Por isso, vivat, crescat et floreat são os nossos votos.
Nunca foi tão urgente, como o é agora, recuperar o passado para o bem do tempo presente e garantia do futuro. Na verdade, está em jogo a vivência goesa, esse modo de estar tipicamente indo-português. Infelizmente, com a velocidade estonteante em que gira o nosso mundo pessoal e colectivo, pouco tempo nos resta para reflexão, para não falar de acção. Por isso, importa que a nossa agenda seja a de reunir o pessoal e pôr mãos à obra.
O acto de reunir os Goeses dispersos pelo Mundo nunca superou, na nossa Revista, aquilo que presenciamos na presente edição, que tem colaboradores das diásporas luso e anglo-goesas. Temos de tudo: uma lenda de Goa pré-cristã e animista, tal qual narra Celina Velho e Almeida, residente em Goa, até à história duma intriga, pouco conhecida, que se passou em Goa, na época da Segunda Grande Guerra, a qual é contada pelo novo colunista, Armand Rodrigues, que vive no Canadá.
Também pouco conhecida da geração moderna é a história da grande aventura que foi a primeira travessia aérea Lisboa-Goa, relatada aqui com pormenor pelo goês lisboeta Francisco Monteiro. De igual modo, o casal Philomena e Gilbert Lawrence, nossos novos colaboradores, de Nova Iorque, dão uma vista panorâmica da secular ligação entre o povo goês e a Grã-Bretanha, que começou com a breve ocupação de Goa pela tropa inglesa, no fim do século XVIII, e continuou com o recrutamento comercial de goeses por aquele país.
Os nossos leitores irão também deliciar-se com três micro-histórias de Goa, não de somenos importância: José Venâncio Machado, radicado em Portugal, lembra-se com emoção das 153 missas celebradas simultaneamente no largo que estadeia entre a Sé e a Basílica, na Velha Cidade de Goa; Ralph de Sousa relata com verve o vaivém silencioso e apressado de gentes nos transportes fluviais de Goa; e Francisco Monteiro retrata a figura de Paulino Dias, uma das maiores figuras da literatura indo-portuguesa, a quem apelida de “poeta da mitologia hindu”.
Ainda no campo literário, temos Sheela Kolambkar, escritora goesa da língua concani, hoje estabelecida em Bombaim, cujo conto, além de transliterado em caracteres romanos, é também traduzido em português pelo signatário destas linhas; e, mais além, Maureen Álvares, numa entrevista comigo, fala do estado actual da língua e cultura portuguesa no território goês.
Para terminar, no contexto da notícia do lançamento do livro Nacionalidade e Estrangeiros, de Edgar Valles, e a crítica feita por José Filipe Monteiro ao livro Entre dois impérios, de Filipa Lowndes Vicente, volto a realçar que nesta edição da nossa Revista vemos ampliada a nossa visão do Goês como verdadeiro cidadão do Mundo.
Como pano de amostra da nova vitalidade que nos brinda enquanto chegamos à bonita idade de dez edições temos a parceria entre a nossa Revista e The Global Goan, sediada na Oceania. Na verdade, “se mais um mundo houvera, lá chegara”.
É claro que, ao fim e ao cabo, o importante não é chegar algures mas, sim, fazer algo de bom e belo. Eis a Revista da Casa de Goa, a menina dos nossos olhos, que tem o condão de produzir novos temas e novos rumos. Mas não paremos por aí. Olhemos atentamente para os gravíssimos problemas da actualidade goesa e sejamos o fulcro dum plano de acção conjunta da nossa comunidade espalhada pelo mundo, em prol da nossa sempre amada Goa.
(Revista da Casa de Goa, Série II, N.º 10, Maio-Junho 2021)
Os meus parabéns a todos os colaboradores deste 10º número da Revista da Casa de Goa que sempre leio com
todo o interesse pelos assuntos interessantes que aborda, desta vez divulgando alguns momentos verdadeiramente históricos e desconhecidos para a maioria dos leitores., como seja a 1ª travessia aérea Lisboa-Goa e a visita da Virgem Peregrina, com a celebração simultânea das 153 missas na Velha Cidade. Tive a sorte de assistir, embora bastante jovem e já tive ocasião de ler o respectivo relato num livro existente num dos museus de Fátima, com a sugestiva fotografia do barco-cisne que transportou a Imagem até à Velha Cidade!
Muito obrigada por todas as partilhas.