Segue uma sexta lista de adágios,[1] extraídos do livro Enfiada de Anexins Goeses, obra bilíngue (concani-português), de Roque Bernardo Barreto Miranda (1872-1935)[2].
Concani | Tradução literal | Tradução livre*
Sodâm manalém cazar nãy. | Sodam manalem cazar nhoi.
Dia a dia ou semana,
não se realiza
o casamento da mana.
* Não se faz sempre o que se fez,
numa ocasião ou uma vez.
Gibhenn quelém, fattin guêtlém. | Jiben kelem, fattin ghetlem.
Pelo agravo praticado
p’la língua, sofreu o costado.
* Foi outrem o delinquente,
mas sofreu o inocente.
Kon tçôdd uddtá, ecdús tó buddtá. | Konn chodd uddta, ek dis to buddta.
Quem pulando vai,
um dia, enfim, cai.
* O atrevido sofre um dia
p’la sua muita ousadia.
Rag martá apnak, sôntôs martá peleak. | Rag marta apnnak, sontos marta peleak.
A ira mata ou faz mal
Ao próprio encolerizado,
e a al’gria magoa os outros
que invejam o afortunado.
-o-o-o-
[1] Cf. quinta lista, Revista da Casa de Goa, Série II, No. 25, novembro-dezembro de 2023, pp. 30-31.
[2] Roque Bernardo Barreto Miranda, Enfiada de Anexins Goeses, dos mais correntes (Goa: Imprensa Nacional, 1931), com acrescentamento dos adágios na grafia moderna, pelo nosso editor associado Óscar de Noronha.
(Publicado na Revista da Casa de Goa, Série II, No. 26, janeiro-fevereiro de 2024, p. 43)
É um encanto ler estes adágios da Nossa Terra, o distilado da sabedoria popular, no original, em concanim, bem como a tradução em português que captura o sabor do vernáculo admiravelmente. Está também a correr por estes dias a 4a Edição do Parkonnem sob os auspícios da Goychem Daiz (Património Goês), ambas expressões autênticas da Cultura da Nossa Terra que sobreviveram as intempéries da nossa História e merecem ser preservadas para a posteridade.
Muito Obrigado Óscar pelo seu trabalho para a preservação e difusão da nossa Cultura.