Story of Mário, the Miranda (Part 4/6)

(L-R Dockworkers in Germany; Charley's Corner, NY; the Wailing Wall; a street in Portugal; open-air cafe in Paris)

Compulsive Traveller

Pages from A Little World of Humour (Source: Mário de Miranda, ed. Gerard da Cunha)

Mário was a persistent seeker of the funny side of life, as A Little World of Humour (1968) and Laugh It Off (1975) make it amply clear. He was never bored, even if stuck at an airport or a railway station; ‘watching people is an experience,’[53] he said. Bombay’s hustle and bustle had brought him face to face with crowds all right, but he only loved watching them, not being in them![54] He enjoyed walking around, be it in the village or the city; to him, walks were ‘life’s mini-journeys that could be turned into a movie’, says Rishaad.[55]

Mário drew from observation, from life, prompting Nissim Ezekiel to remark: ‘No escape if Mario is looking at you.’[56] In his illustrations always teeming with human specimens, each had their own story to tell. However, sometime later,  began cherishing moments away from the madding crowd, say, by slipping into the anonymity of a movie hall.[57] Was it plain overload or a midlife crisis that had suddenly brought on the feeling that ‘life is not funny as all that’[58]?

Fortunately, there was an upside to the behaviour change. Mário got less and less interested in cartooning and more and more excited about capturing moods and ambiences for his pictorial travelogues.[59] He made no bones about his travel mania – ‘especially if someone else is footing the bill!’ as he would say in jest.[60]

Pages from Laugh it Off (Source: Mário de Miranda, ed. Gerard da Cunha)

In 1979, a year after a major trip to Germany, he quit the influential Times Group and joined a fledgling tabloid, Midday, under Contractor’s editorship. From 1985 onwards, he was a freelancer with the same editor’s The Afternoon Despatch & Courier: not only did his cartoons gel with Busybee’s humour, the paper’s relaxed pace permitted him and wife to travel and draw at will. Sometimes, Habiba and the sons joined him on cross-country jaunts, which were truly memorable, says Raul.

Mário’s wanderlust brought forth the sublime artistry of his pencil and brush, ink and paper – fascinating enough to fill a book. Generally, after he had spotted his themes, his pen would scribble just a few hasty lines, later turning them into finely detailed and nuanced sketches, thanks to the artist’s photographic memory for faces and buildings[61] (he especially loved old people and ruins). Mário’s traditional line art had by now got stylised into neat, black ink pen illustrations, sporting straight graphite lines with flat cross-hatching for tonal variations.[62] Mário said, ‘If you see my early work and compare it, you’ll see I always enjoy experimenting.’[63]

Over a span of three decades, Mário put up more than thirty solo exhibitions across the country[64] and the world.[65] Vinod Mehta saw no contemporary illustrator or cartoonist in India coming close to Mário’s command over the grammar of drawing; the alleged ‘lack of venom’ in his repertoire spoke for his ‘objective perspective’.[66] In the year 2000, Fundação Oriente in collaboration with the Indian Council for Cultural Relations organised a Mário retrospective titled Goa and Other Works[67], honouring the man who for years had served as a cultural link between Portugal and India (Figure 4).[68]

 


Acknowledgements: (1) I am indebted to Fátima Miranda Figueiredo for her knowledge and patience translated into many hours of whatsapp chats about her brother Mário and the family; and to Raul and Rishaad de Miranda for their warm welcome and lively conversation. (2) Banner picture: Portrait Atelier Goa (3) Article first published in Revista da Casa de Goa, Lisbon, Series II, No. 12, Sep-Oct 2021


[53] FTF Mario Miranda, op. cit.

[54] ‘The Last Interview’, op. cit.

[55] Personal interview, 9.7.2021.

[56] Ibid.

[57] Pritish Nandy, https://economictimes.indiatimes.com/mario-miranda-the-man-who-made-miss-fonseca-famous/articleshow/11075146.cms

[58] Conversation with Shri Mario Miranda – 3 (Outtakes), 26.6.1991, op. cit.

[59] Germany in Wintertime (1980); Impressions of Paris (1985); Desenhos e Aguarelas (1987); Spain (2007), et al.

[60] ‘Tale of Two Goans’, op. cit.

[61] ‘The Last Interview’, op. cit.; for Mário sketching in loco, cf. Conversation with Shri Mario Miranda – 1 (Outtakes), https://www.youtube.com/watch?v=UBTrDEU9gEQ

[62] ‘The Last Interview’, op. cit.; for Mário at work in Bassein cf. Conversation with Shri Mario Miranda – 2 (Outtakes), op. cit..

[63] ‘Tale of Two Goans’, op. cit.

[64] His first countrywide tour, ‘American Sketchbook’ (1975), included Panjim, Calcutta, Madras and New Delhi.

[65] In Paris, New York, Lisbon, East Berlin, Singapore, Muscat, Jerusalem and Macau, among others.

[66] Vinod Mehta, ‘Tomorrow is another day’, in Mário de Miranda, op. cit., p. 140.

[67] [Lisboa]: Fundação Oriente, 2000.

[68] Mário was the local coordinator of Fadista Amália Rodrigues’ visit to Goa, in 1990, sponsored by Fundação Oriente, as a prelude to setting up office in Goa. Also cf. ‘From Lisbon with Love’, by Mário, in Goa Today, February 2001, pp. 18-19, describing his exhibition and stay in Portugal in the year 2000.


A Última Conversa com Percival Noronha

Numa tarde chuvosa (1 de Julho do ano passado), quando de súbito me lembrei do Sr. Percival Noronha[1], não hesitei em terminar a minha sesta dominical. Um distinto cavalheiro – culto, agradável, e que me estimava – daí a dias iria completar a bonita idade de 95 anos… Urgia, pois, falar com o grand old man de Pangim.

Quando liguei para a sua casa, ouvi logo um ‘Estou!’ inconfundível. Na linguagem do Sr. Percival, esse estar era o mesmo que estar disponível! ‘Pode o Óscar vir quando quiser’, disse com a amabilidade que o caracterizava. Estava sempre pronto para um papo, e desta vez seria como nunca dantes: radiodifundida na minha rubrica mensal, Renascença Goa… (https://www.youtube.com/watch?v=KRK2PimgTmo) Saí então rumo às Fontaínhas, acompanhado do meu irmão Orlando que trataria das fotos.

Era um prazer ir à residência do Sr. Percival (‘Ajenor’, nº E-426, à Rua Cunha Gonçalves). Também nos cruzámos, por centenas de vezes, em concertos, conferências, exposições de arte, e não menos em casamentos e funerais. Um senhor da velha guarda, era cumpridor dos seus deveres sociais e cívicos. Apesar da nossa diferença etária, a conversa corria como um rio de águas claras, pois o Sr. Percival era não só envolvente mas também apreciador dos méritos dos seus contemporâneos e estimulador dos talentos dos mais novos.

Por muito curioso que pareça, vi o Sr. Percival Noronha, pela primeira vez, no longínquo ano de 1969. Foi isso na sede do Governo, ou seja, no Palácio do Idalcão, a antiga residência oficial dos Vice-reis e governadores portugueses (1759-1918), o qual a partir de 1961 passara a denominar-se Secretariat. Aqui trabalhava também uma tia minha, Maria Zita da Veiga. E conservo a grata memória de o Sr. Percival nos convidar ao Café Real para o chá das cinco. Como o restaurante apinhado de gente, demorámos no seu Volkswagen Beetle, onde vieram chávenas de chá para os colegas e um refresco para o menino que os acompanhava!

Diga-se de passagem que eu admirava o seu automóvel, preto, parecendo sempre novo, tal como o seu proprietário. Este, sempre vestido de bush shirt ou camisa safari, percorria os cantos e recantos da cidade, que conhecia como a palma da sua mão. É que Percival e Pangim se pertenciam um ao outro: foi dos melhores cronistas da capital, do seu ethos e do seu ritmo, que descreveu em bela prosa.[2] E fê-lo com autoridade, mesmo porque presenciou nove décadas, ou seja, metade da história dessa urbanização,[3], de forma que hoje se torna difícil imaginar o nosso Pangim sem o Sr. Percival Noronha.

Cargos oficiais

Feitos os estudos liceais na capital, o Sr. Percival Noronha entrou para a administração pública, em 1947. Trabalhou, primeiro, nas Obras Públicas, passando depois para os Serviços da Estatística e Informação. Quando esta foi desagregada, o distinto professor e escritor António dos Mártires Lopes levou-o consigo para os novos Serviços de Turismo e Informação de que este acabava de ser nomeado chefe. O Sr. Percival nunca se esqueceu dos belos tempos do Liceu e do funcionalismo que passou sob a alçada directa desse seu antigo professor liceal: confessava que essa relação fora fundamental em nutrir a sua paixão pela história e cultura.

Quando se deu a mudança do regime politico, em Dezembro de 1961, o Sr. Percival era chefe-adjunto dos Serviços da Informação, reportando ao governador-geral Vassalo e Silva. Em Junho de 1980, a visita do simpático governador coincidiu com as comemorações do 4.º centenário da morte de Luís de Camões em Goa. Vinha a título pessoal, mas nem por isso a visita deixou de suscitar controvérsia.

Decorreu-se o pior da cena no Azad Maidan (‘Largo da Liberdade’), a antiga Praça Afonso de Albuquerque. Aqui, à certa distância, vi o antigo governante a ser interpelado por alegados actos de comissão e omissão do regime português em Goa.[4] O embaraçoso incidente atalhou-o o Sr. Percival Noronha, que, na qualidade de chefe de Protocolo do Território de Goa,[5] estava incumbido de acompanhar o ilustre visitante.

Antes dessa data, com a limitada bagagem de conhecimentos de inglês auferidos no Liceu, e língua essa que logo veio a dominar, o Sr. Percival Noronha ocupou outros cargos importantes na administração indiana. Foi sub-secretário das indústrias, minas, trabalho, saúde e turismo. Entre muitas outras iniciativas suas, os hospitais do Asilo em Mapuçá e o Hospício de Margão passaram a subordinar-se à Direcção de Saúde. Desenvolveu as zonas de Calangute, Colvá, Mayém e Farmagudi, e ideou os desfiles do Carnaval e Xigmó; teve papel preponderante no arruamento Campal-Miramar e na arborização do Parque Infantil; e foi um dos responsáveis pela realização da grande Feira Agrícola em 1970. Ora, possuidor dum raro espírito de autocrítica, não ocultava as faltas que houvera no planeamento e execução dessas suas propostas.

Não admira que o Sr. Percival Noronha tivesse sido um solteirão muito cobiçado. Passou, porém, a vida a cuidar da veneranda mãe, vindo a aposentar-se apenas um ano após a sua morte. Era igualmente dedicado à vida burocrática, passando horas a fio à mesa do gabinete, até para além das horas regulamentares. Um funcionário desse quilate podia facilmente esquecer-se de si próprio, como foi, na verdade, o caso do Sr. Percival Noronha.

Vida de aposentado

Teria sido diferente a sua vida depois de aposentado em 1981? Mudou de actividade, sim, mas o expediente não mudou de volume. Dedicou-se, a tempo inteiro, às matérias por que tinha propensão natural: a arte, a história e a astronomia.

Começou por dotar a sua residência com mobiliário de estilo tipicamente indo-português. Efectuou-se grande parte dessa obra no rés-do-chão do seu prédio, o qual havia sido confiado ao conhecido carpinteiro Zó. Disse-me, em mais de uma ocasião, que gastara nisso quase todas as suas economias. Também é verdade que todo dinheiro lhe era pouco quanto se tratasse de comprar objectos de arte e livros.[6] Assim, a casa se viu transformada em verdadeiro museu-arquivo que deveras honra o histórico bairro das Fontaínhas.

O Sr. Percival não parou por aí: tomou a peito vários assuntos de interesse público. Inspirado pelo alto funcionário (e depois governador) K. T. Satarawala, no ano de 1982 abriu um ramo da Indian Heritage Society em Goa e foi professor convidado da Faculdade de Arquitectura. Exerceu o cargo de secretário daquela organização não-governamental que, em colaboração com a Town and Country Planning Department, preparou um relatório sobre os prédios e sítios de importância arquitectónica no território de Goa. Foi também tesoureiro do INTACH (Indian National Trust for Art and Cultural Heritage) em Goa.

Esses organismos continua a desempenhar o importante papel de alertar a opinião pública e de sugerir medidas pela preservação do património cultural mas falta-lhes o Percival, que em crónicas de jornal e trabalhos de pesquisa, se esforçara por esclarecer os conceitos relativos à tradição goesa.[7] Tinha subjacente um apelo por que os goeses se pusesssem à altura da sua história e cultura, que fazia questão de interpretar como verdadeiramente indo-portuguesa. Sendo a Velha Cidade, sem dúvida, o berço dessa cultura, era natural que a antiga capital do Império Português no Oriente fosse a menina dos seus olhos.[8] E pelos serviços prestados à divulgação e defesa da cultura de língua portuguesa e da identidade indo-portuguesa em Goa o cronista do nosso passado foi agraciado pela República Portuguesa com a Ordem do Mérito (2014).[9]

Embora o Sr. Percival Noronha fosse indiferente em matéria religiosa, nunca hostilizou a Igreja. Pelo contrário, reconhecendo o papel desta no progresso espiritual e material dos povos, colaborou com as entidades eclesiásticas. Em 1986, quando da visita do Papa João Paulo II, participou entusiasticamente na preparação do evento. E, em 1994, foi membro fundador do Museu de Arte Cristã que ora se acha no Convento de S. Mónica.

Esse goês de gema era um arco-íris de saberes, tratando tanto da arqueologia como da astronomia com a mesma facilidade. Fundou a Association of Friends of Astronomy (AFA)[10], em 1982. Este organismo, além de vir a publicar uma revista mensal, Via Lactea, editada pelo fundador, abriu, em 1990, um observatório astronómico público – o primeiro do seu género na Índia – com o apoio do Departamento de Ciência, Tecnologia e Meio-Ambiente, do Estado de Goa.

O Sr. Percival Noronha viveu uma vida sem artifícios – plain living and high thinking. Foi um líder cultural que criou à sua volta uma pleiade de jovens com decidida propensão pela história, arqueologia, arte e astronomia. Na sua casa, onde funcionavam os dois organismos que criou, recebia jornalistas, pesquisadores e outra gente interessada. Teimava em alertar a geração nova sobre o grave estado de bancarrota civilizacional em que a sua amada Goa estava a descambar. Esses recursos humanos e hábitos salutares sendo o maior legado do Sr. Percival Noronha, tem razão a Fundação Oriente em apelidá-lo de “Um Goês Exemplar”, num livro que publicou em sua homenagem.

Na verdade, é a vida intelectual que o entusiasmava, contribuíndo também para a sua saúde física. A sua roda de amigos da velha data[11] nutria a saudade pelo passado enquanto a geração nova o desafiava com projectos futuristas. Era um desses amicus certus, que tratando-se de algum sem-vergonha, falava, tipicamente, com ironia e sorriso escarninho. Mas não vou sem frizar que a todos desejava o bem, e para uma vida saudável recomendava-lhes uma medida de moog grelado por dia! Antes da prótese da anca, em Abril deste ano, esteve relativamente lúcido e ágil.

Última conversa

96 anos da vida. Dir-se-ia mesmo que o Sr. Percival Noronha teve sete vidas. Nos últimos anos era seu costume, quando adoecesse, anunciar a sua morte e daí a dias estar em pé! Era como que tivesse um sistema imunológico como o do gato persa, de que gostava. Não era motivo para recear, pois, quando ouvi de novo que o Amigo estava em declínio. Tive, porém, empenho em conversar com ele demoradamente.

Às 4,30 da tarde, o Sr. Percival tinha já à mesa o bule de chá e bolachas. Dormira a sesta e estava pronto para uma conversa. A rapariga, às ordens, sentada lá no fundo da sala. E parecia tudo como dantes...

Foi quando notei que o venerando ancião tinha o cabelo despenteado, a barba por fazer, e faltava-lhe a placa de dentes. Nunca o vira assim… Os apetrechos de trabalho estavam lá todos, arrumadinhos, nas estantes e armários, dum lado da sala de jantar, onde costumava passar grande parte do tempo a trabalhar. Também isso não estava como dantes... E reflecti também que desta vez o meu anfitrião que viera ele à janela, como era seu costume, deitando para mim a chave da porta principal… Tudo isso indicava que a sua vida ia afrouxando. Fiquei triste.

Por outro lado, animou-me o facto de ele mandar vir esse ou aquele livro ou pasta que até sabia bem onde estava. Já dava sinal de certa lucidez... Continuando a conversa notei que já não era o mesmo Percival Noronha de 1969; ou o de 1999, quando me recomendou que concorresse para a tradução do livro de Maria de Jesus dos Mártires Lopes[12]; ou o de 2004, quando me deu um depoimento sobre a Velha Cidade[13]; e nem mesmo o de 2016, quando me falou sobre o meu tio-avô[14]. Não, não era o mesmo Percival Noronha!

No entanto, ia falando sobre o seu currículo escolar e profissional; as suas actividades depois de aposentado; sobre Salazar (cuja inteligência e honestidade admirava) e o 18/19 de Dezembro; a administração, portuguesa e indiana; os cursos e conferências que realizou nas universidades da Ásia e Europa; o futura da língua portuguesa em Goa; a cultura goesa e a distorção da sua história; os seus amigos e as pessoas que admirava; e a vida em Pangim: tudo isso, entre muitos outros assuntos, e não necessariamente nessa ordem de ideias.

Nos últimos meses, vi-o, várias vezes, debruçado no peitoril da varanda, qual abencerragem a observar a vida que corria lá fora, e com a cara de quem pensa: Quantum mutatis ab illo… Barbudo, lembrava Abraão, personagem de primordial importância para as comunidades à sua volta. E com aquele cabelo a voar e ele a fitar o firmamento, assemelhava-se à figura de Einstein…

Também lá do alto do Céu ouvirá – no último domingo do mês de Novembro deste ano – a última entrevista que concedeu cá na terra. Foi a minha última conversa com o Sr. Percival Noronha.

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[1] De nome completo, Percival Ivo Vital e Noronha (26.7.1923 –19.8.2019), filho de António José de Noronha, de Loutulim, e de Aurora Vital, de S. Matias.

[2] “Panjim: Princess of the Mandovi” (2002); “Fontaínhas: vivendo com o passado”(2001); “Fontaínhas: the Tale of Panjim’s Latin Quarter” (2003), in Percival Noronha: Um Goês Exemplar (Fundação Oriente, 2015)

[3] A vila de Pangim foi elevada à cidade com a denominação de Nova Goa, por alvará de 22 de Março de 1843, o qual lhe outorgou todos os privilégios de que gozavam as cidades de Portugal Continental.

[4] O incidente impulsionou a minha primeira intervenção jornalística em forma de uma carta ao director dum jornal de Pangim – “Our Honoured Guest”, in The Navhind Times, 12/6/1980.

[5] Na altura, cumulava este cargo com o de director da administração das Obras Públicas.

[6] Doou a sua casa ao sobrinho Francisco Lume Pereira, de Verna, onde Percíval Noronha faleceu, e os livros doou-os à Universidade dos Açores e à Krishnadas Shama Library, de Pangim; e os diapositivos, ao Arquivo Histórico Ultramarino.

[7] “Christian Art in Goa” (1993); “Indo-Portuguese Furniture and its Evolution” (2000); “Priceless Christian Art” (2004), e “Goan Artisans” (2008), in Percival Noronha: Um Goês Exemplar (Fundação Oriente, 2015).

[8] “Levantamento arqueológico da Velha Goa e tentativas para a sua conservação” (1989); “Old Goa in the context of Indian heritage”(1997); “Um passeio pela Velha Cidade de Goa”(1999); “A Capela de Nossa Senhora do Monte, em Velha Goa” (2001), ), in Percival Noronha: Um Goês Exemplar (Fundação Oriente, 2015).

[9] Recebeu  ao todo 16 galardões de proveniência vária.

[10] http://afagoa.org/about_us.html

[11] Entre outros, António dos Mártires Lopes, Aleixo Manuel da Costa, Maria de Jesus dos Mártires Lopes, Alcina dos Mártires Lopes, Artur Teodoro de Matos, Luís Filipe Thomaz, Teotónio de Souza, Rafael Viegas, Nandakumar Kamat, Satish Naik.

[12] Tradition and Modernity in Eighteenth-Century Goa (Manohar, New Delhi & Centro de HIstória de Além-Mar, Lisboa, 2006)

[13] Old Goa: A Complete Guide (Panjim: Third Millennium, 2004)

[14] Castilho de Noronha: por Deus e pelo País (Panjim, Third Millennium, 2018)

Fotos de Orlando de Noronha, com excepção da da condecoração (e-cultura.pt) e da do lançamento do livro (Fundação Oriente)

Publicado na Revista da Casa de Goa, II Série, Número 1, Maio/Dezembro de 2019 https://issuu.com/jmm47/docs/revista_da_casa_de_goa_-_ii_s_rie_-_n1_-_maio-dez_


All about Amor

Maria do Carmo Piçarra’s talk at Fundação Oriente, Panjim, was titled “Behind the Portrait of Antunes Amor, Educator and Pioneer of Cinema in Goa”. A researcher at Instituto de Comunicação da Nova (ICNOVA), Lisbon; assistant professor at University of the Arts, London (UAL); and a Fundação Oriente scholar, Piçarra holds a doctorate in Communication Sciences. She is a film programmer; author of several publications, among them Azuis Ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo (2015) and Salazar vai ao cinema (2006, 2011), and principal editor of (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017).

Piçarra contextualised a painting titled “Mr. Amor. The Portuguese Agent” (1917) from the Trindade Collection on permanent display. That striking piece of art by the Bombay-based Goan painter António Xavier Trindade (1870-1935) was gifted to the Foundation by Dr Marcella Sirhandi, a friend and biographer of the artist.

Piçarra spoke of Amor’s cinematographic forays in Macau, where he screened his first amateur movie. She also mentioned the films he made about school life, history, and so on, while in Goa. A strong defender of the pedagogical and propagandist uses of cinema, Amor had several of his films shown in local halls.

The precious little I already knew of Manuel Antunes Amor (1881-1940) I had heard from my father a quarter of a century ago; I was now surprised to see him again! Trained in Germany in the early twentieth century, Amor (‘Love’, in Portuguese) was a self-opinionated gentleman whose tenures as primary school inspector in Goa (1916, 1922) were mired in controversy.

Finally, Piçarra's remark that Amor was particularly suspicious of lawyers reminded me of that high-profile polemic he had with Joaquim de Araújo Mascarenhas (1886-1946), a Goan legal eagle who doubled as Portuguese language teacher at Liceu Nacional de Nova Goa. A lethal combination it proved to be.

An article titled “O ensino primário e a incúria do Estado” ('Primary school education and State neglect') that Araújo Mascarenhas wrote for the maiden issue of the monthly Boletim de Educação e Ensino (April 1927) made Amor see red. He wrote a censorious rejoinder, “Sem autoridade nem razão” ('Devoid of authority or reason'), in the very next edition.

Araújo Mascarenhas dashed off a point-by-point rebuttal. The Boletim’s editorial board that comprised primary school teachers declined to publish it, possibly fearing the inspector's wrath. It led the redoubtable polemist to bring out a volume titled Resposta a uma provocação ('In Response to a Provocation').

Sadly, the Boletim folded up in August that year, but not before the long series of events had vitiated the atmosphere. No wonder the very gifted Mr Amor was someone many Goans loved to hate.


Fated to sing...

Amália at Kala Academy http://www.foriente.pt/167/amalia-in-goa.htm#.XZnLJEYzbIU

International star Amália Rodrigues spent a few days in Goa to meet her fans and lovers of the Portuguese fado. She performed at Kala Academy's Dinanath Mangueshkar auditorium to a 1000-plus audience on the evening of June 5.

Despite her 70 years of age, Amália, as she is affectionately called, regaled one and all. Her language is universal, so the youngsters understood her too. But for the older folks which comprised 75 per cent of the audience the performance was tinged with nostalgia. The sentimental Portuguese sang their fado (fatum, fate) far from their country, on the banks of the Mandovi.

Born of humble parentage in Lisbon, in 1920, Amália, who sang fados and tangos at the tender age of three, made her debut at 20.

At the Campal auditorium she regaled the audience with twenty-eight fados, old and new: ‘Rosa Fogo’, ‘Amêndoa’, ‘Entrega’, ‘Povo’, her own ‘Grito’, ‘Lágrima’. And lágrimas de alegria (tears of joy) flowed down her cheeks when she noticed the excitement of her fans as she sang the older numbers like ‘Que Deus me perdoe’, ‘Nem às paredes confesso’, ‘Madragoa’, ‘Barco Negro’, ‘Mariquinhas’, ‘Lisboa Antiga’, ‘Alfama’, ‘Lisboa, não sejas francesa’, ‘Coimbra’, ‘Ai Mouraria’, ‘Foi Deus’, to end with ‘Casa Portuguesa’.

And a Casa Portuguesa (Portuguese house) it was indeed. Remarked an All India Radio staffer, ‘This is probably the audience we have for our weekly Renascença…’

Amália sang and conquered. She had four brilliant accompanists: Pinto Varela and Carlos Gonçalves (Portuguese guitar); himself a composer, Joel Pina (viola baixo), and Lelo Rodrigues (viola). The sustained brilliance of the foursome dramatically underlined the romantic and expressive nuances of the fado which came effortlessly to the Queen of the Fado. The enraptured audience only wished Amália had come here in her younger days.

A charismatic personality, Amália is said to have ‘rescued’ the fado, transforming it into a universal art. Today her strongest point lies in the fact that she can still draw a big audience the world over, but oddly enough not in Portugal itself. Still she is easily Portugal’s best cultural ambassador to the world.

The show in Goa was sponsored by Fundação Oriente. Amália’s stopover in Goa, on her way to Macau, South Korea, Japan, USA and Monte Carlo, was definitely a landmark in the cultural calendar of this tiny state, but sad to say, the occasion was mismanaged by local co-sponsors INTACH.

Things began going wrong, right from the word go. Invitations and passes were distributed at the fancies of INTACH members, much before the general public even became aware of the show. A member of the audience commented that the passes finally went not to Amália fans but only to a coterie. The result: an indignant public responded by gate-crashing. And, certainly, enthusiasm overflowed from the back rows of the auditorium which comprised, among others, several gate-crashers!

What was also unbecoming was the near-anarchic scene at the gate and inside the auditorium where there were no ushers. The compere too was a poor choice: with scant knowledge of Portuguese, he faltered at every step, and even mispronounced the key word, fado, to rhyme with mando!

Finally, unpardonable was also the fact that while Amália was showered with gifts, garlands and bouquets, from the Government of Goa, Panjim Municipal Council and INTACH, her four smart accompanists were left high and dry! Minus points for the fabled ‘Goan hospitality’…

An international star deserved better coverage in the press, not for her sake but for the benefit of the public at large. But Amália was hardly in the limelight. And it was hardly her fault. Her fado was to have the local entourage impose themselves on the Queen to the point of disallowing her contact with pressmen, barring a few instances of journalists who had to fight their way in.

But to Amália these things mattered little. It was also in her fado to lose her baggage in transit. But that did not deter her. She wore that beautiful smile and lent everyone her magic voice…that’s because the fado turns magical with Amália.

This even makes us redefine the fado. The Portuguese language dictionary calls it destino, fatalidade, canção popular e dolente (‘destiny, fatality, a song popular and sorrowful’). But the face of the fado has changed over the years. This compels us to redefine the fado as Amália!

(Goa Today, July 1990)